O solo tem DNA?

Fonte Laércio Santos Silva

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            O DNA do solo corresponde sua assembléia mineralógica que, em grande parte, é dependente do material de origem, ou ainda, minerais formados (secundários ou pedogênicos) a partir da decomposição de outros preexistentes (primários ou litogênicos). Cada mineral é constituído por uma unidade menor, a menor parte de um cristal, denominada de cela unitária. Esta pode ser entendida como a identidade do mineral, pois assim como a digital humana ela é única, conferindo ao solo caraterísticas herdáveis da rocha.

Têm-se catalogados mais de 400 minerais no solo, entretanto, alguns são mais abundantes na litosfera, como: caulinita (Al2Si2O5(OH)4, representante do grupo dos minerais silicatados, e os oxihidróxidos de Fe e Al, genericamente, pertencente ao grupo dos óxidos, como hematita (Hm = α-Fe2O3), goethita (α-FeOOH) e gibbsita (γ-Al(OH)3)). Outros menos frequentes são maghemita (γ-Fe2O3), podendo constituir em até 40% do teor de óxidos de ferro total do solo, e magnetita (Fe3O4), facilmente caracterizados por conferirem ao solo magnetização espontânea.

Semelhante ao DNA dos seres vivos, os minerais do solo são responsáveis pelas características físicas, químicas, morfológicas e indicadores de processos. Com ênfase nos óxidos de ferro, esses assumem papel substancial nos solos tropicais, uma vez que correspondem quase que a totalidade dos minerais da fração argila, estão vinculados aos fenômenos físicos do solo, tais como: agregação, infiltração de água no solo, resistência a penetração, potencial de erosão, etc. Das atribuições químicas, eles estão envolvidos nos fenômenos de capacidade de troca de ânions (CTA) e cátions (CTC), adsorção de fosfato, metais pesados e etc.

Para os pedólogos, a cor é uma propriedade morfológica pedoindicadora segura da presença e tipo de óxidos de ferro no solo, mesmo em baixa concentração. Por exemplos, solos mais amarelados indicam goethita como principal óxido de ferro, enquanto hematita impinge coloração mais avermelhada ao solo. Assim, as cores e sua distribuição nos solos indicam processos ou condições pedoambientais específicas, pois, na natureza o ferro podem ser encontrados na forma reduzida (Fe2+) e oxidada (Fe3+), condicionando cor cinza, amarela e avermelhada ao solo. Ainda, são comumente usados nas investigações de eventos pretéritos, mudanças paleoclimáticas e variabilidade espacial de atributos químicos e físicos do solo, que são covariativos da mineralogia do solo.

Por essas razões, os minerais do solo, em especial, os óxidos de ferro, são elegidos pedoindicadores ambientais por refletirem as condições sobre os quais teriam sido formados e sua persistência no solo por longo tempo. Sumarizando, com o reconhecimento da variabilidade espacial dos minerais do solo torna-se possível a identificação de áreas com diferentes potenciais produtivos, permitindo a aplicação de doses mais exatas de fertilizantes (otimização de custo) e mitigando problemas ambientais (erosão, eutrofização) no ecossistema.

Edição do texto: Nélida Quiñonez

Fonte : Laércio Santos Silva